Quando pensamos sobre o comportamento entre irmãos, coisas como ciúme, inveja, rivalidade, competição, etc., pensamos sempre como comportamentos anormais e negativos. O ciúme é visto como algo totalmente condenável e proibido entre irmãos, principalmente em relação ao irmão mais velho, quando nasce o segundo filho. Muitos pais chegam mesmo a dizer ao filho, que o ciúme é feio, que não deve nunca existir em relação ao irmãozinho e que esse veio para brincar com ele, ser seu amigo e companheiro nas brincadeiras.
A criança percebe essa verdade no momento em que a mãe chega da maternidade com o bebê no colo. O colo já começa a ser dividido desde então. O ciúme nesse caso, é esperado e, portanto, normal.
O anormal seria que esse irmão mais velho não sentisse rivalidade nenhuma por esse bebê que chega e o tratasse amigavelmente. Caso isso acontecesse, poderíamos dizer que essa atitude seria estranha e preocupante, pois seria uma atitude que não faz parte da índole da criança, e que obviamente ela deveria demonstrar esse ciúme alguns momentos.
Tanto o ciúme quanto a inveja, quando intensos, são fonte de grande ansiedade.
O ciúme na criança, quando não é demasiado forte, é característica normal da personalidade. Envolve rivalidade sadia; e quando surge no relacionamento com irmãos, é um treino preparatório da fase competitiva, que mais tarde ela precisará enfrentar no ambiente social e profissional.
As manifestações mais comuns do ciúme são a hostilidade e o ódio. A hostilidade pode oscilar entre leves manifestações de implicância e pequenas agressões até uma completa intolerância para suportar a presença do irmão; onde o desejo é o de “eliminar” o objeto odiado.
O ciúme pode também manifestar-se de maneira indireta: a criança experimenta ansiedades, dirigindo sua hostilidade abertamente contra o irmão. Pode voltá-la contra si mesma, ou contra o ambiente.
Pode haver também uma regressão: manha, revolta, agressão contra os pais, inapetência, fracasso nos estudos ou recusa em crescer (independência). Quando essa fase se estende muito, pode ameaçar o equilíbrio da personalidade infantil, levando a distúrbios, como: sinais de ambivalência e indecisão, dificuldade em tarefas que exijam capacidade de abstração ou chegar a conclusões com clareza.
Como característica do comportamento desse irmão ciumento, pode surgir o oposicionismo que é dirigido contra os pais.
Por exemplo: os pais gostariam que ele fosse bom aluno, fosse disciplinado, etc., e a criança reage ao contrário, opondo-se a essa expectativa para assim atrair a atenção tão desejada dos pais.
Existem também os mecanismos passivos: a criança interioriza sua hostilidade, mas é vítima de maior carga ansiosa. Aparecem os tiques nervosos, a fala “tate-bi-tate” (em idade que a linguagem já tenha sido estabilizada e a criança já venha se expressando com facilidade).
Volta a molhar a cama ou a querer que lhe dê comida na boca.
Enfim, comporta-se como em etapas anteriores de seu desenvolvimento.
Outra forma passiva, é quando a criança fica apática, apagada, preguiçosa, sem entusiasmo.
Pode bloquear-se afetivamente, sufocando junto com a inveja e o ciúme, o amor.
Deixa de ter reações amorosas com familiares e irmãos.
Desde que a afetividade e a inteligência estão intimamente ligadas e interdependentes, a produção e o rendimento dessa criança costuma ser precário.
Outro mecanismo passivo, é a própria desvalorização. A criança acha-se inferior e, portanto, se anula. Essa atitude determina reações depressivas que são auto-destrutivas.
Deve-se nesse momento canalizar essa agressividade adequadamente, valorizando seus sucessos numa escolinha de natação, ou outra atividade qualquer onde a criança se destaque com desenvoltura. Ela deve ser estimulada a fazer novas amizades e a freqüentar outros lugares diferentes daqueles do irmão. As comparações obviamente devem ser evitadas. Inevitavelmente elas ocorrerão, mas, espera-se, vindas de fora.
Dizer que um dos irmãos é mais inteligente, mais caprichoso, mais carinhoso, etc. não servirá de estímulo ao outro irmão; muito pelo contrário, só fará com que ele se sinta humilhado e inferiorizado. Mais tarde é provável que se torne num adulto que se julgue pouco inteligente ou pouco afetuoso, bloqueando-se nessas áreas; o que não é incomum. Com freqüência encontramos adultos ou adolescentes que se julgam feios, incapazes ou pouco criativos porque sempre foram comparados ao irmão. Comparações desse tipo minam traços do caráter da criança e podam seu desenvolvimento.Quando falamos sobre as comparações feitas pelos pais, temos de levar igualmente em consideração as preferências, que são também nocivas ao desenvolvimento emocional da criança.Artigo publicado originalmente no site PapoNosso : Comportamento entre irmãos
Fonte:http://artigosdepsicologia.wordpress.com/2007/09/16/comportamento-entre-irmaos-1/
http://artigosdepsicologia.wordpress.com/2007/09/16/comportamento-entre-irmaos-2/
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